quinta-feira, 15 de maio de 2008








200ANOS DA COSTA-NOVA

(Fascículo10)
(...)

Por cima da «loja» havia um celeiro de palha extreme, amplo dormitório comunitário para servir de albergue em noites de descambada invernia, daquelas em que mais parece que todas as guerras deste mundo emigraram lá para cima,e mais acautelado será a um pobre passante, interromper jorna e esperar que os santos se ponham de acordo.. Noites em que o troar dos canhões é substituído pelo ribombar infernal do entrechoque das negras e convulsas nuvens, em escarapela, atiradas umas contra as outras pela trabuzana desarcada. Noites em que o céu se escarcalha, deixando passar em jorro as bátegas de água, que batidas pelo vento fustigam o viandante desprevenido, sem tempo para se espirar e acolher, a tecto condigno.
Mais aconselhado era ficar com um caldinho de feijocas que a Ti Norta, boa apousante, fornecia a troco de umas bilhas de azeite lá da serra, ou de um fumeiro emprazado, bem regado, finado com um mata bicho de rija e agreste cachaça, daquela que entibece o espírito e o liberta das agruras da vida, em preparo do corpo para uma ressega noitada.
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Mais tarde se chamaria a esta venda ,«A Bruxa» .Adiante contaremos porquê.


7- PRIMEIRO AGREGADO URBANO

O agregado urbano assumiu desde o início a sua característica notória, ao desenhar-se como uma linha de palheiros debruçados sobre a concha que a ria ali tinha feito, dispostos na sua borda, numa correnteza. de casebres sombrios, monótonos na cor e nas formas, construídos ao sabor dos altos e baixos das dunas, dispostos para norte e para sul da mota da barcas da carreira. (que até 1932 se situou frente, ao hoje, café Atlântida). Toda a actividade piscatória foi, por via desse desenvolvimento, afugentada, empuxada lá para o sul, para detrás de uma moradia (que fez história) edificada como se fosse o fim da linha, uma das primeiras casas a ser construída em alvenaria, no povoado. Tratava-se de uma mansão de grande dimensão para a época, onde vinha esbarrar a ligação Barra- Costa Nova, servindo-lhe como que de paredão.( que como dissemos atrás, foi construída na segunda metade do século XIX) .



Casa «Pinto Basto»


Aberto o arruamento, logo se percebeu –e reclamou -, a necessidade de ser criado um espaço para descarrego das tralhas (pipos ,lenha ,redes etc),que permitisse o dar volta às carroças que começaram, depois da sua construção, a servir de alternativa ás barcas, até ali a única maneira de fazer chegar o necessário e indispensável, à Costa -Nova . A Câmara de Ílhavo então presidida pelo Dr António Cerveira, para esse efeito, levou a cabo a expropriação litigiosa[1] de um palheirão em ruínas da firma Bastos & Bastos, pertencente à Companha da Srªda Saúde, libertando desse modo um espaço amplo, desimpedido, que mais tarde(1933) viria a ser escolhido para a implantação do mercado da Praia ( que aí se fixaria até aos finais do século XX.)

O «Palheirão» que antecedeu a «Casa Pinto Basto»

A primeira ligação da beira da ria, em direcção do mar, foi posibilitada, a sul, com a expropriação de uns terrenos à sr.ª Pauseira, permitindo o acesso à Lomba, e dali às Companhas.

Até princípios do séc. XX não existiria em todo o aglomerado urbano, qualquer tipo de iluminação pública, nocturna[2]. De noite eram os clarões das fogueiras às portas dos palheiros e ou a mortiça e bruxuleante luz vinda do interior, dos candeeiros a tremeluzir ,que indiciavam a existência de vida no aglomerado urbano.A benfeitoria da luz a querosene só viria a acontecer na segunda década do referido século, como referiremos adiante.

Os primeiros candeeiros na Costa-Nova(1926)

A água doce, essencial à urbe, era retirada de poços, abertos na areia. A uma determinada profundidade era fácil, dada a capacidade filtrante da areia, obtê-la em condições satisfatórias, quer em qualidade quer em quantidade.


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[1] Em 10.5.1899 o povo de Ílhavo foi convocado pela C.M.I, para decidir sobre a expropriação

[2] Em 1935 foi autorizado o prolongamento da linha de alta tensão ,que passando à Barra, alimentava a Costa-Nova. Anteriormente, a partir de 1926,tinham sido instalados candeeiros a querosene


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