Mais aconselhado era ficar com um caldinho de feijocas que a Ti Norta, boa apousante, fornecia a troco de umas bilhas de azeite lá da serra, ou de um fumeiro emprazado, bem regado, finado com um mata bicho de rija e agreste cachaça, daquela que entibece o espírito e o liberta das agruras da vida, em preparo do corpo para uma ressega noitada.
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Mais tarde se chamaria a esta venda ,«A Bruxa» .Adiante contaremos porquê.
7- PRIMEIRO AGREGADO URBANO
O agregado urbano assumiu desde o início a sua característica notória, ao desenhar-se como uma linha de palheiros debruçados sobre a concha que a ria ali tinha feito, dispostos na sua borda, numa correnteza. de casebres sombrios, monótonos na cor e nas formas, construídos ao sabor dos altos e baixos das dunas, dispostos para norte e para sul da mota da barcas da carreira. (que até 1932 se situou frente, ao hoje, café Atlântida). Toda a actividade piscatória foi, por via desse desenvolvimento, afugentada, empuxada lá para o sul, para detrás de uma moradia (que fez história) edificada como se fosse o fim da linha, uma das primeiras casas a ser construída em alvenaria, no povoado. Tratava-se de uma mansão de grande dimensão para a época, onde vinha esbarrar a ligação Barra- Costa Nova, servindo-lhe como que de paredão.( que como dissemos atrás, foi construída na segunda metade do século XIX) .
Casa «Pinto Basto»
Aberto o arruamento, logo se percebeu –e reclamou -, a necessidade de ser criado um espaço para descarrego das tralhas (pipos ,lenha ,redes etc),que permitisse o dar volta às carroças que começaram, depois da sua construção, a servir de alternativa ás barcas, até ali a única maneira de fazer chegar o necessário e indispensável, à Costa -Nova . A Câmara de Ílhavo então presidida pelo Dr António Cerveira, para esse efeito, levou a cabo a expropriação litigiosa[1] de um palheirão em ruínas da firma Bastos & Bastos, pertencente à Companha da Srªda Saúde, libertando desse modo um espaço amplo, desimpedido, que mais tarde(1933) viria a ser escolhido para a implantação do mercado da Praia ( que aí se fixaria até aos finais do século XX.)
A primeira ligação da beira da ria, em direcção do mar, foi posibilitada, a sul, com a expropriação de uns terrenos à sr.ª Pauseira, permitindo o acesso à Lomba, e dali às Companhas.
Até princípios do séc. XX não existiria em todo o aglomerado urbano, qualquer tipo de iluminação pública, nocturna[2]. De noite eram os clarões das fogueiras às portas dos palheiros e ou a mortiça e bruxuleante luz vinda do interior, dos candeeiros a tremeluzir ,que indiciavam a existência de vida no aglomerado urbano.A benfeitoria da luz a querosene só viria a acontecer na segunda década do referido século, como referiremos adiante.
Os primeiros candeeiros na Costa-Nova(1926)
A água doce, essencial à urbe, era retirada de poços, abertos na areia. A uma determinada profundidade era fácil, dada a capacidade filtrante da areia, obtê-la em condições satisfatórias, quer em qualidade quer em quantidade.
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[1] Em 10.5.1899 o povo de Ílhavo foi convocado pela C.M.I, para decidir sobre a expropriação
[2] Em 1935 foi autorizado o prolongamento da linha de alta tensão ,que passando à Barra, alimentava a Costa-Nova. Anteriormente, a partir de 1926,tinham sido instalados candeeiros a querosene
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