(fascículo 11)
8- A PRESENÇA DE JOSÉ ESTÊVÃO
José Estêvão tinha uma predilecção muito especial por esta praia para onde vinha descansar da sua tumultuosa actividade parlamentar. E era no recolhimento do seu quarto que sentia entrar a brisa fresca do norte e lhe chegava o sussurro do mar que rebentava e espraiava de encontro às dunas da costa[1] ; aí recuperava forças ânimo, e lastro, para a palavra: - fluente, corajosa, firme e torrencial de tribuno insigne – o maior! - da história pátria. Que hoje ainda, o recorda, enaltece e contempla.
José Estêvão passava aqui, regularmente, largas temporadas na companhia de sua esposa, D. Rita Moura Miranda, para quem teria comprado (1840) o palheiro que fora pertença do comerciante Manuel Marinho, mercantil de sardinha, rico proprietário que em Aveiro tinha uma outra mansão, mais tarde pertencente aos «Rebochos».
José Estêvão tinha uma predilecção muito especial por esta praia para onde vinha descansar da sua tumultuosa actividade parlamentar. E era no recolhimento do seu quarto que sentia entrar a brisa fresca do norte e lhe chegava o sussurro do mar que rebentava e espraiava de encontro às dunas da costa[1] ; aí recuperava forças ânimo, e lastro, para a palavra: - fluente, corajosa, firme e torrencial de tribuno insigne – o maior! - da história pátria. Que hoje ainda, o recorda, enaltece e contempla.
José Estêvão passava aqui, regularmente, largas temporadas na companhia de sua esposa, D. Rita Moura Miranda, para quem teria comprado (1840) o palheiro que fora pertença do comerciante Manuel Marinho, mercantil de sardinha, rico proprietário que em Aveiro tinha uma outra mansão, mais tarde pertencente aos «Rebochos».
O Tribuno tinha o hábito de receber no seu palheiro,no qual depois de o adquirir introduzira umas simples melhorias, muitos dos seus amigos, de entre eles figuras gradas da política e das letras, locais e nacionais.
Seroavam habitualmente e familiarmente consigo, os Mourões, os Alcoforados ,os Visconde de Almeidinha ,o Arcebispo Bilhano , o José Ferreira, os Pinto Basto, os Regalas e muitos outros. Vindos de Lisboa para o visitar, estiveram na sua casa muitos dos seus amigos e correligionários: Mendes Leite, Freitas de Oliveira, Sebastião Lima,Agostinho Pinheiro, que por aqui demoraram para com desfrutarem com José Estevão das habituais visitas diárias às companhas da xávega ,cujos arrais o politico conhecia pelos nomes próprios(ou alcunhas),e a quem, tantas vezes, concederia auxilio. Fosse simples amparo humano nos momentos de infortúnio -que nesta labuta eram vulgares -, fosse político, intercedendo junto da Governo e até da Coroa, para obter os costumados privilégios que habitualmente eram choramingados -e concedidos -a esta gente ; ou ajuda como brilhante advogado, não desdenhando envergar a toga e ir à barra dos tribunais com a sua brilhante oratória, defender estas humildes gentes, sempre que se sentiam espoliadas dos seus direitos.
Frequentemente o tribuno embarcava para as terras da Joana Maluca de quem era muito próximo, para a visitar.Com ele levava os seus convidados, que Joana recebia, com muita apreço e a alegria de uma boa, esmerada e briosa anfitriã. Singular mulher, de forte arcabouço, faladura varonil desembaraçada, muito expressiva, verdadeira matriarca da Gafanha da Encarnação, Joana fazia gala em bem receber o político e seus amigos, organizando para o efeito opíparas jantaradas. Findas as vitualhas, era costume refastelarem-se nas espreguiçadeiras colocadas sob o vasto telheiro da quintarola dos Gramata, entretidos na conversa enquanto saboreavam longos charutos de que Joana era, estimável e insaciável, fumadora. Chalaceavam, ao tempo em que deixavam correr o olhar contemplando a ria a agasalhar-se num imenso cobertor de neblina rasteira, enquanto o sol ,enorme disco de fogo, se esgueirava em fim de tarde por detrás dos palheirinhos, na outra banda, desenhando-lhes os contornos no vermelhão afogueado que ia tingindo o céu. E logo surgia a lua por detrás das serranias a esparramar o prateado sobre a ria, reflectido nas tainhas que em saltos encabritados se atiravam, imolando-se, contra os saltadores. Estas armadilhas montadas pelos pescadores ribeirinhos tinham a forma de caracol, para onde as taínhas entravam ,mas já não saíam.
Findo o dia, era tempo de desmoirar a barca para, bem dispostos e faladores, bem aconchegados, voltarem à Costa-Nova, para se recolherem ao conforto do palheiro do anfitrião, em retempero das fadigas da jorna gastronómica.
Destas presenças e andanças, destas incursões marialvas, faziam de «búzio» os jornais e revistas da época, locais e nacionais. A Costa-Nova começaria em meados do séc. XIX a ter estatuto, sendo referenciada pelo charme e autenticidade, e rusticidade do perfil humano que lhe dava vida, elogiada pela bondade da sua natureza geográfica encravada entre uma ria povoada por centenas de embarcações com longos pentes amarrados á borda, a catá-la, à procura de moliço, e o mar. Onde na borda os bois investiam por ele adentro, penetrando-o até a água lhes fustigar o ventre, participando activamente na faina piscatória a conferir um tom de ruralidade ao areal inerte.
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[1] Magalhães ,Luís in «José Estêvão- Discursos Parlamentares», ed. Câmara Municipal de Aveiro
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