quinta-feira, 1 de maio de 2008






200 Anos da Costa-Nova

(fasciculo 6)

Rapidamente muitos dos pescadores -por falta de afoiteza, ou por gosto individualista, ou ainda pela idade -, voltaram-se para a ria, que se mostrou ,de novo e logo que permitida a renovação das suas águas, farta e rica em espécies .Em 1900 são (já) registadas capturas levadas a efeito na ria, que ascendem a três milhões, seiscentos e sessenta e cinco, seiscentos e sessenta e seis réis. Curioso é que desde logo, a apanha de bivalves concorreu com importante fatia para o referido valor, oficialmente (!) registado (porque já então a fuga ao imposto sobre o pescado era prática habitual, que nascia e crescia com estas gentes, muito facilitada pelas condições de laboração).





Foi Manuel Firmino quem experimentou, em S. Jacinto, nas suas companhas, o puxar pela soga os soberbos animais, atando-os pelo chicote ao cabo do alar de redes, retirando ao homem essa tarefa extenuante[1]. Desde logo a experiência foi positiva. Os animais habituados a entesteferrar com o areão, foram capazes de entrar mar adentro até ao joelho, parecendo não entojar com a vaga Até ali, a rede era puxada por pessoal contratado para o efeito que se vinha juntar ao pessoal que tinha ido ao mar, num arraial de gentes em vozearia de trovejo, a alar a rede, num arrastar sofrido. A um cinto (?) largueirão que envergavam à cinta e cingido por alças, era fixa uma ponta de cabo- o chicote - que ia enlaçar por detrás, ora no rossoeiro ora no cabo da mão. Dobrados ao esforço, lá iam duna acima, duna abaixo, até depositarem a sacada no areal. Era um trabalho fatigante, sofrido e muito demorado. Por isso se revelaria muito positiva a experiência de levar os bois á beira-mar para o desempenho de tal tarefa, aplanando o fardo de tão exaustiva faina.


Na Costa-Nova, concedida a facilidade em levar os animais ás Companhas, e porque das galefenhas era fácil carrear alimento – ali farto - para os manter em abegoarias a descansar entre lanços , a sua utilização foi praticamente imediata à instalação das companhas, logo que varadas nesta zona do litoral .Para recolher os animais construíram-se na beira-mar grandes barracões, suficientemente espaçosos para os albergar, mas e também para enceleirar pastagem para seu sustento.

A chegada de bois conduzidos pelos rústicos lavradores, à borda do mar, veio dar um tom de ruralização ao areal, como aliás o notou e expressou Miguel Unamuno, quando por aqui passou e registou a ardego nas suas «Viagens por Portugal».O lavrador deixou-se cativar por aqueles terrenos -o mar - onde se colhe sem ser preciso semear. Revolvidas as areias, esquentado o seu interior pelo escasso, depositada a semente, havia tempo para esperar que o pão medrasse. O chamamento à borda foi irrecusável, e muitos viram no mar, o complemento para engorda do magro pecúlio familiar, pretensão que perseguiam desde que os seus ancestrais tinham vindo lá das gândaras, determinados a construírem uma nova terra da oportunidade. O rústico, habituado a dar fundura ao rego, a fazê-lo e a refazê-lo, a recompô-lo sempre que necessário, ganhou coragem de ir lavrar o mar, mas agora sem o arado, acorrendo com bois à faina, na esperança de juntar um pouco mais ao rendimento magro da leira que tinha deixado entregue aos cuidados da mulher.
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[1] Este alar ocupava pescadores ,mulheres, e até crianças ,que ao compasso do rufar compassado do tambor, iam puxando (alando) a rede para fora do mar.











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