terça-feira, 17 de junho de 2008







200 Anos da Costa-Nova


(fascículo 22)


11.10- As touradas e as garraiadas

Desde 1904 que se vinham organizando garraiadas e até touradas, na Costa-Nova e na praia do Pharol. Em 8 de Novembro de 1904, um grandioso cartaz dava conta da realização na «Plaza di U Pharol» de uma tourada onde 7 cornúpetos seriam lidados. Estas organizações estavam cometidas ao Clube dos Galitos ou ao Recreio Artístico,



Garraiada na raia do Farol

e eram seus habituais organizadores, Lino Marques, Francisco Freire e Francisco Encarnação.
O primeiro anteplano urbanístico da Costa-Nova, previa, mesmo, a construção de uma praça de touros, sendo certo que o referido plano, por estranho que pareça, não contemplava qualquer local para a prática de desportos náuticos:


11.11 - Regatas

Também datam desta altura (1904) as primeiras regatas, que eram organizadas pelos banheiros. Eram regatas em esquifes ou outros tipos de embarcações a remo. Na primeira realizada na Costa-Nova, distinguiu-se Samuel Maia (timoneiro), e os vogas António Maia e António Parracho.
Em 1935 noticiava-se a realização de grandiosas regatas na Costa-Nova, organizadas pelo Sport Club do Porto, onde para lá de 14 dinghies, competiram bateiras, dóris, caçadeiras, moliceiros e mercantéis (à vara).
Registamos que :
Na caçadeira «Néné», Mário Graça ao remo e Soledade Mano ao leme, competiram com a «MiMi», em que Victor Gomes dava mão ao remo, e Maria Conceição Pinto lemava.
Na «MariaTeresa» remava Ondina Mano e timonava Aníbal Ventura, competindo com a «Ondina» de Ermelinda Picado e Victor Regala.
Já nos dóris, no «Catrineta», embarcaram João Ventura, João Piorro e João Adriano, competindo com o «Maria da Glória», tripulado por José Calixto, Mário Graça e Manuel Ventura. No «Freda» remavam Amadeu Cachim, Aquiles Bilelo e Euclides Vaz, batendo-se com o «Marazul» de José Piorro, Victor Gomes e Mário Júlio Freitas.
Nas regatas à vara, salientaram-se o «Arreda que tispeto», o «Bamos lá cum deus» e «Talvês tiscreba».
À noite houve festa de arromba na distribuição dos prémios.
Madrugada, quem ia para os banhos, ouvia o ressonar nos beliches das recoletas. A malta imigrante também ressonava alto na «terceira» dos palheiros lá do sul. [1]



A primeira Regata a Remo na Costa-Nova (1935)

Só a partir do primeiro quartel do século se realizaram as primeiras regatas à vela, navegando-se em embarcações do tipo canoas com velas latinas triangulares, as embarcações que antecederam o aparecimento dos Vougas.
O «Vouga» foi uma curiosa embarcação de recreio que nasceu na Costa-Nova, com um desenho e características muito bem adaptadas para o passeio de grupos na Ria. Calando muito pouca água, podendo ajustar-se à profundidade encontrada e capaz de transportar até 6/8 tripulantes, era (é) um barco rápido, muito bem adaptado aos ventos locais e à navegação interior em águas por vezes agitadas por ventos fortes, habituais, do quadrante norte.
Foi António Gordinho (engenhoso carpinteiro naval, autodidacta) quem respondeu com mestria ao caderno de encargos, e às exigências postas, adaptando às condições locais uma embarcação semelhante a uma que teria visto, ou que lhe teria sido sugerida (segredo ainda hoje não esclarecido).




O «Vouga» Laide

Em 1925/26 António Gordinho começa na sua oficina a construir este tipo de embarcação; o trabalho complexo do arquear das cavernas inteiriças, para o efeito mergulhando as peças em água quente, e depois firmando-as por extensores de rodilha, até lhe sobrepor o costado.

Cerca de quatro dezenas de Vougas saíram das suas mãos. O «Vouga» foi o tipo de embarcação que fixou gerações e gerações de jovens, à ria, e lhes permitiu visitar as cales mais recônditas, os veiros mais esconsos, percorrendo nele toda a Laguna, do Carregado à Vagueira, de uma ponta a outra.


O «Vouga» - vagabundo da Ria

Ponto alto da época estival, era a Regata da Srª da Saúde, onde os mais hábeis e os mais afoitos competiam com os que tinham melhores barcos, tentando marcar a diferença. Nas vésperas era hora de carenar as embarcações, no Bico, ensebando o seu casco, reforçando os brandais, afagando o patilhão, cintrando o mastro. Procedendo, enfim, às últimas afinações, na esperança de ganhar uma competição, ano a ano renovada, que elegia o melhor cana até ao próximo ano.




Regata de «Vougas»


«Vougas» rondando as bóias



Lancha

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[1] «Saguncho» in «O Ilhavense»

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