quarta-feira, 16 de abril de 2008






(fascículo2)



2 -TOPÓNIMO

Desde sempre se discutiu a origem do topónimo. Quanto a Costa-Nova, não há qualquer dúvida, por contraponto a «Costa Velha», a de S. Jacinto. Mas porquê Costa-Nova-do-Prado?

Dois séculos passados de iniciada a labuta exsudada do galefenho a investir contra as crostas arenosas e sáfaras, da Maluca, a revolver-lhe as entranhas e a adoçar o seu ventre a fim de lhes conferir qualidades maternas para gerar vida, deveriam( no início do séc. XIX), ser já visíveis terrenos onde rompia o «viço» de uma prometida fertilidade. Toda essa extensão a perder de vista, planura longínqua estreme onde se descortinavam, ali e acolá alapados, um ou outro casebre de foreiro, era já um verdadeiro prado de verdura tenra e fresca, a despontar nas quintas dos Gramatas. Estas lonjuras eram obrigatoriamente atravessadas nas idas e vindas «pelas levas» do pessoal para a labuta no novo local de pesca. Que necessariamente lhes não poderiam ser indiferentes, impressionados no navegar, diário, em mar tão verde, tão quieto, tão manso e tão doce para a vista e para o pé descalço, e já tão cheio de vida prometedora. Certamente que esta paisagem diariamente cruzada pelos passantes do areal, lhes despertou o êxtase quando em dias primaveris sorveram em golfadas de ar fresco o perfume primaveril que deles ressumava, ao tempo que lhes encarniçava o olhar espreguiçado sobre a imensidão verde, a perder de vista. Teria pois lembrado àqueles primeiros andarilhos- pescadores descalços e em mangas de camisa, pescadeiras asseadonas e trabuqueiras, de pernas lestas e cinta bamboleante, aos almocreves escancha-pernas a tocar as pilecas que naqueles areais nem precisavam de ferraduras - juntar na pia baptismal o “do Prado” à designação da nova costa então «achada», para desse modo melhor ser identificada, distinguida da anterior, da velha conhecida da Srª das Areias.
E assim se ficou a designar a que é hoje um maravilhoso pousio, delícia assombrosa para o olhar que resta subjugado aos cambiantes cromáticos da natureza a nos endrominar os sentidos, antes de nos acostumarmos, exercício pródigo da natureza impossível de ser descrito, apenas e só pelas palavras, baptizado por aqueles seus primeiros demiurgos, como COSTA- NOVA- DO- PRADO.




Fig 2- Costa-Nova início séc. XX

3- ARTE DE XÁVEGA - A circunstância que deu origem à Costa- Nova-do-Prado

A Costa-Nova teve pois a sua origem quando as artes de Xávega assentaram arraiais, tralhas e embarcações, na beirada da costa, varando o mar a sul da nova barra aberta em 1808. Nasceu há duzentos anos; tantos quantos leva aquela embocadura feita pelo génio do homem, a permitir, diariamente, que o mar se espraie e descanse na extensão lagunar, nela adormeça, e logo desperte para ir deambular lá para os longes de todo o mundo.

Quer por razão de acesso do pessoal e animais, quer por razões para o escoamento do pescado, a costa de S. Jacinto onde as referidas «artes grandes» de há muito se vinham praticando, era de fácil acesso por simples atravessamento do braço da ria, de águas praticamente paradas.Com a abertura da nova barra, a facilidade virou dificuldade extrema, e ou até obstáculo intransponível.


Fig1 – O Meia-Lua

A arte de Xávega, oriunda da xábéga catalã, terá sido trazida para esta zona do litoral aveirense pelos galegos, gentes que assiduamente e desde os tempos que remontam à fixação das comunidades no litoral, sempre mantiveram regular contacto com os portos do litoral norte. Muito especialmente no período áureo do tráfico intenso do sal (séc. XV/XVI) produzido na laguna, de que chegaram a deter o monopólio do seu transporte e comercialização[1].
Também designada por NOVA ARTE ou como acima referido,simplesmente ARTE GRANDE, o termo enxávegas é-nos, contudo, já referenciado no sec.XV, pois já então o Infante D Henrique cobrava imposto sobre as referidas enxávegas que vinham de Castela
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[1] Na Galiza foi estabelecida uma rede de armazéns- alfolias- para dar cumprimento ao monopólio do comércio de sal ,estabelecido por FilipeII-Amorim Inêsin –«Aveiro e a sua Provedoria» ,pp361

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