quarta-feira, 23 de abril de 2008














2oo ANOS DA COSTA- NOVA



(Fascículo 4)



Em 1773 dar-se-ia um facto que viria alterar profundamente este estado de coisas. De Languedoc,de França, apresentou-se em Ovar um tal Mijoulle (acompanhado de um grupo de catalães) que se dizia ser conhecedor de uma nova técnica de conservação da sardinha, permitindo mantê-la por muito mais tempo em condições de utilização. Mijoulle instalou uma unidade de salga (então designada fábrica) em Ovar, e perante os bons resultados obtidos, logo a sua técnica se começou a espalhar pelos locais vizinhos. Mijoulle viria a atingir uma posição destacada no meio, chegando a ser nomeado vice Cônsul do seu País, no porto de Aveiro, com todas as regalias materiais daí advindas. E chegará a ser recomendado pelo poder Central, junto da vereação de Aveiro, louvado por Pina Manique que afirma recomendar o francês, pela pronta extracção das pescarias que muitas vezes se perdia pelas praias por falta de compradores[1]
D.José irá mesmo proibir a importação de sardinha vinda da Galiza, pois que a apanhada e conservada na nossa costa, era, já então, suficiente para a procura verificada.

O segredo de Mijoulle acabou por ser conhecido, generalizando-se a nova técnica por todos os locais onde se praticavam as artes, correndo a versão, na altura, de que as unidades fabris do francês teriam sido objecto de espionagem com a finalidade de lhe roubar o segredo.

E que técnica era essa?!
A sardinha depois esventrada e de lhe ser retirada a cabeça, era, de seguida, metida em tinas (ou dornas), com água e sal suficientes para que se produzisse uma salmoira, aí permanecendo o tempo adequado, para, seguidamente, ser prensada e depois empilhada, em barricas, borrifada de sal, acondicionada para suportar longos períodos, até ser consumida.

Da salmoira, era extraído o sil, óleo utilizado para iluminação, que misturado com o zarcão servia para impregnar a madeira utilizada na construção dos palheiros, conferindo-lhe um tom ocre, funcionando como um óptimo conservante.
As tripas e as cabeças retiradas eram juntas aos caranguejos, os pilados, formando o escasso. Fertilizante de grande qualidade, era adicionado ao moliço para ser adoçado com o tempero do sol, vindo a constituir o remédio adequado para as maleitas daquelas terras gafas ajudando o lavrador a transformá-las nos viçosos campos de pão, verdejantes, milagre da pertinácia humana sobre a paisagem, formando planuras imensas estendidas aos pés da ria, rendidas ao odor da maresia que as refresca e alenta, enquanto as vai esgodando.

Pretende-se que a arte de xávega teria sido, só iniciada, aquando da chegada de Mijoulle. Não será totalmente correcto: aquele francês chegou, como dito acima, em 1773.Ora há referências, sem margem para dúvidas, que em 1751,1764 e 1765 existiriam, já, companhas a pescar em S. Jacinto.Certamente utilizando técnicas de salga mais rudimentares (o escorchado).




(cont)

Um comentário:

Ana Maria Lopes disse...

Vamos lá ver se o comentário entra.