quarta-feira, 28 de maio de 2008






200 Anos da Costa-Nova


(fascículo 15)





Na correnteza que se postava para norte da casa «Pinto Basto», seguindo até ao Bico, e por onde pululavam as tendas de comércio, o aspecto exterior dos alçados dos palheiros, e até a sua divisão interior, eram muito idênticos: na marginal as edificações tinham em norma o rés do chão a que se acedia por uma porta ao centro, ladeada por duas janelas de guilhotina, aos vidrinhos; e um 1º andar (chamado sobrado) com varanda de balaústres ,suspensa, pendurada do beiral e enquadrada por duas janelas, também elas de guilhotina e aos vidrinhos. O beiral saía cerca de um metro da empena, sendo embelezado por cachorros, que mais não eram que o prolongamento das vigas de suporte do telhado, que lhe davam consistência e amparo.Era forrado interiormente por tabuado. Alguns, frontalmente, eram enfeitados com entabulamentos de fino recorte -as grinaldas -


Beiral com as« grinaldas»


que lhes conferiam uma certa individualidade, e graça. O tabuado de capa e camisa, no alçado, dispunha-se na vertical, enquanto nos laterais era disposto horizontalmente, por razões de equilíbrio (travamento) estrutural.




Costa-Nova cerca 1900


Os novos palheiros, inicialmente pousados sobre o areal, sem outra fundação que não fosse uma estacaria verde, cravada na areia e pedra, envolta em sal para não apodrecer, começaram a incluir uma caixa de ventilação com cerca de 0.50 m por debaixo do piso de tabuado.Que era apoiado em vigas de madeira escoradas em fiadas de adobes deitados a servir de fundação,com a finalidade de evitar o apodrecimento rápido do soalho.
De uma maneira geral tinham corredor ao meio, e incluíam cozinha no piso inferior e no sobrado, pois que este era habitualmente alugado a veraneantes[1]. A tendinha das necessidades era exterior, deitando para uma fossa rota.

9-3- As primeiras construções em alvenaria

A primeira construção[2] do agregado urbano, executada em alvenaria a ter uma dimensão exagerada e até um pouco chocante, terá aparecido no final do séc. XIX. Outras se seguiriam, interpondo-se entre os palheiros de tabuado. De entre elas, a mais notável, virá a ser a que, ao sul, se dispunha no sentido nascente-poente e que era pertença de Alberto Pinto Basto.E que, como já referimos, veio substituir o palheirão de salga que naquele local estava implantado com a mesma orientação. A sua posição perpendicular ao aglomerado urbano parecia pretender opor-se a qualquer crescimento da praia ribeirinha, para sul, barrando olhares e até a passagem, pois ali vinha embater o caminho que ligava a Costa-Nova, à Barra (1866) [3]. Construção polémica, só possível pelo ascendente politico do proprietário.

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[1] Em 1936 dava-se conta de que um palheiro era alugado por 600$00 mês.
[2] Numa viagem pela borda em que o Ti Ricoca, na sua bateira, Senhora da Saúde, levava consigo o doutor Moura , partidista (médico de partido) em Ílhavo, e o Sr Mesquita, de Aveiro ,perante a surpresa do doutor à primeira casa de alvenaria, avistada da ria , o Ricoca informou :
-Saiba Vossa senhoria ,senhor doitor ,que o palácio é de um brasileiro deTràz-os-Montes,lá pró pé de Sangalhos…(Dinis Gomes ,in «O Ilhavense» de 4/8/1935)


[3] Após a construção desta estrada surge na Câmara (27.06.1899) uma petição a solicitar a expropriação do palheiro da firma Basto & Comp .para que se abrisse um largo onde se pudessem descarregar tralhas ,lenhas ,colchões etc..O palheiro ficava no final da mesma e teria dado origem ao largo onde mais tarde se construiu o mercado.

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